Arte em mim.
- José Paulo Strano
- 20 de jun. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 5 de jul. de 2022

Pequeno ainda, no terreno de terra preta batida, enquanto os mais velhos corriam atrás da bola, eu, que era menor e já tinha feito minha partida, sentava admirando as batidas dos sinos anunciando o fim da tarde nos sons da Ave Maria.
Não havia ainda em mim o conceito e a definição de arte.
Ninguém dos meus colegas de rua, escola e de minha família curtia ou tinha prazer em apreciar esse mundo de fantasia.Fui me criando em sonhos, muitas vezes rejeitados por um mundo e uma sociedade na qual fui criado e educado.

Na época, isso era normal, apesar de ter nascido na maior cidade do Brasil, vivíamos numa sociedade prática, machista e capitalista - em meio aos preconceitos da sociedade em que crescia, todo artista era mal visto, tido como vagabundo e outros adjetivos pejorativos mais.
Meu final de infância e início de adolescência foi assim: frustrado culturalmente e feliz por não perder o sonho de um dia descobrir por que uma mulher (Abapuru, de Tarsila de Amaral) com um corpo todo transfigurado, sentada, pensando no meio do nada, com uma cabecinha pequena entre um mandacaru e uma bola, era tão valiosa e importante para o mundo.
Nos passeios no seminário Salvatoriano, aos sábados, quando acompanhava meu pai que ia doar verduras aos padres, é que iniciei minha vida para arte. Enquanto meu pai conversava e brincava com os religiosos, eu sentava no chão desenhado e frio de pedras admirando e analisando toda a riqueza dos vitrais coloridos, não sei belgas ou italianos, que com a entrada da luz do sol davam brilho aos meus olhos e esperança aos meus sonhos.
Assim, comecei a crescer sem medo de envelhecer.
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